Florestas foram o centro do debate brasileiro na COP26

Florestas foram o centro do debate brasileiro na COP26

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 03/12/2021

Marina Vieira, Glasgow

A COP26, a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, deixou um recado claro para o Brasil: o país precisa acabar com o desmatamento se quiser ter alguma chance de cumprir com os compromissos firmados pela estabilidade do clima.  
 
Sediada em Glasgow, Reino Unido, a COP26 reuniu líderes do mundo inteiro, além de representantes do setor privado e da sociedade civil, para se debruçar sobre o maior desafio que a humanidade enfrenta atualmente. 

Iniciativa Verde esteve na COP26, em Glasgow. Foto: Marina Vieira.


Se para a maioria dos países na COP o maior fator de contribuição para a crise climática é o uso de gasolina, gás, carvão e outros combustíveis fósseis para geração de energia, para o Brasil o problema vem de outro lugar. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 73% das emissões brasileiras vêm do desmatamento e da agropecuária. 
 
Por isso Tasso Azevedo, coordenador do SEEG e do MapBiomas, apresentou no espaço da sociedade civil e privada do Brasil na COP, o Brazil Climate Action Hub, um caminho para neutralização das emissões brasileiras que envolve diretamente o agronegócio e as florestas. O primeiro passo é, obviamente, acabar com o desmatamento. "Acabou com o desmatamento já tirou um bilhãozinho da mesa", disse Tasso no painel, se referindo à estimativa de que o setor de mudanças de uso da terra - que abarca o desmatamento - tenha emitido 1 bilhão de toneladas de carbono equivalente no último ano, isto é, metade de todas as emissões do país. 
 
O Brasil - que já havia se comprometido a zerar o desmatamento ilegal antes - assinou durante a COP26 um novo acordo, este com mais de 100 países, prometendo acabar com a derrubada de florestas até 2030. Só aqui, porém, existe uma distinção entre desmatamento legal e ilegal, explica Tasso. Para o resto do mundo, quando se fala em parar o desmatamento, é parar completamente. “Para o clima não tem diferença, o carbono é o mesmo no legal e o no ilegal”, esclarece o pesquisador. 

 
Resolvendo a questão do desmatamento, o Brasil já consegue equilibrar todas as emissões da atividade agropecuária, defende Azevedo. Melhorar a qualidade da pastagem que está degradada no país faz com que carbono seja estocado no solo, o que poderia já resolver dois terços das emissões restantes. O que sobra, propõe o cientista, pode ser resolvido com tecnologias, trocando combustíveis em carros, ônibus e caminhões, eletrificando as frotas e investindo em demais fontes de energia limpa. Com isso, o Brasil conseguiria neutralizar suas emissões até antes de 2050, que é a meta assumida pelo país no Acordo de Paris. 
 
Investigando quão perto o Brasil está de conseguir cumprir a promessa de neutralização, Raoni Rajão, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, desenvolveu uma pesquisa que projeta três cenários. Um, de governança forte na área ambiental, nos coloca no caminho para cumprir a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) declarada no Acordo de Paris. Com uma governança média, o Brasil consegue cumprir sua primeira meta, de 2025, mas passa raspando no cumprimento da segunda, de 2030. Já um cenário de governança fraca impossibilita o cumprimento até da primeira meta. 
 
“Ainda não podemos dizer que a governança ambiental do Brasil está completamente desmobilizada, porque há uma atuação dos órgãos estaduais e você ainda consegue ter alguma atuação do IBAMA, apesar de extremamente enfraquecida”, conta Raoni Rajão. “Isso se reflete nas taxas de desmatamento, que saíram ali do tendencial e começaram a se aproximar perigosamente das taxas de desmatamento projetadas inicialmente na governança fraca”, explica. 
 
O cenário forte é um de implementação de fato do Código Florestal, com validação e monitoramento de seus mecanismos, que ainda caminha a passos lentos em diversos estados do Brasil, e de fortes sinalizações políticas indicando tolerância zero para o desmatamento. 
 
Além do passo urgente e necessário de combater o desmatamento no Brasil, as florestas e outros ecossistemas brasileiros oferecem um outro lado da moeda - o das soluções baseadas na natureza. A Mata Atlântica, por exemplo, é um bioma com enorme potencial de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, segundo análise apresentada pelo SEEG, SOS Mata Atlântica e Imaflora. O estudo apresenta a possibilidade do bioma atingir o net zero, ou seja, a neutralidade de carbono antes da meta nacional, em 2042, zerando o desmatamento até 2030 e restaurando 15 milhões de hectares de floresta. 
 
A Iniciativa Verde esteve presente na COP26 e acompanhou as discussões sobre floresta, serviços ecossistêmicos, mecanismos de compensação de carbono e financiamento climático, que se relacionam com o trabalho desenvolvido pela ONG desde 2005. Saiba mais sobre os programas de clima e restauração da Iniciativa Verde: https://iniciativaverde.org.br/atuacao 


Espaço da sociedade civil e privada reuniu cientistas, ambientalistas, políticos e empreendedores na COP26. Foto: Marina Vieira

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