Compostagem com piolhos-de-cobra

Compostagem com piolhos-de-cobra

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 24/01/2019

 

 

Texto e ilustrações: Daniel Miyazato

Resíduos orgânicos são amplamente negligenciados no Brasil. Apesar do tratamento deste tipo de descarte estar previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), as esferas do poder público, mantêm sistemas de gestão falhos. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) de 2017, 78,4 milhões de toneladas de resíduos sólidos são gerados somente nas áreas urbanas do país. Destes, 59,1% vão para aterros sanitários, e o restante acaba em locais inapropriados.

A destinação incorreta da matéria orgânica é especialmente preocupante, porque gera metano (CH4), potente gás de efeito estufa, e forma o chorume, um líquido que contamina solo e mananciais.

A compostagem é o processo de tratamento mais sustentável para ese tipo de resíduo. Mas, como atenta o relatório de resíduos urbanos do Ipea, de 2012, somente 1,6% dos dejetos orgânicos do país é destinado a usinas de compostagem.

Comumente realizada com minhocas, a compostagem produz um húmus que melhora a retenção de água, a resistência à erosão e a fertilidade do solo. Trata-se da decomposição natural da matéria orgânica, tornando-a rica em nutrientes e diminuindo o volume dos dejetos.

Pesquisadores da Embrapa testam agora um outro animal para triturar os resíduos. Chamados de gongolos, embuás, piolhos-de-cobra ou marias-café, estes habitantes de ambientes úmidos, que se enrolam quando ameaçados, mostram-sebons aliados no tratamento dos rejeitos orgânicos.

A gongocompostagem é mais prática comparada àquela feita com minhocas. Isso porque, segundo a pesquisadora da Embrapa Maria Elizabeth Correia, os gongolos agem como fragmentadores, acelerando o processo e concentrando nas fezes nutrientes para as plantas. A cientista também destaca que os piolhos-de-cobra conseguem triturar resíduos que as minhocas têm dificuldade, como galhos e até papelão.

De acordo com Correia, para realizar o método, é importante ter um quintal ou um jardim em que os gongolos ocorram naturalmente. Deve-se empilhar os dejetos da área em uma região sombreada e de fácil acesso, para a manutenção da umidade. Os resíduos podem ser depositados continuamente. Após 4 meses, o gongocomposto, recolhido de baixo da pilha e separado em peneira de obra, pode ser utilizado como adubo. Depois de 6 meses, já pode servir de substrato para mudas de hortaliças.

A Embrapa utiliza a espécie Trigoniulus corallinus, porém já receberam relatos de aplicação dos Rhinocricus padbergi. Ambas ocorrem em áreas urbanas e rurais, sob folhas ou outros resíduos naturais.

Quanto aos restos de alimentos, Correia explica que os testes da Embrapa envolveram apenas folhas e galhos secos. “No entanto, acredito que materiais como cascas de legumes e de frutas, que não sejam cítricas, talos de hortaliças, cascas de ovos e borra de café poderiam ser adicionados em pequenas quantidades e misturados aos demais materiais”, ressalva a pesquisadora.