Gente que faz acontecer

Gente que faz acontecer

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 27/02/2014

Germiro no restauro de Porto Feliz.

Como dissemos no primeiro post, um dos objetivos deste novo blog é aproximar os amigos e parceiros do dia-a-dia da Iniciativa Verde. Seguindo esta intenção, nada mais lógico do que contarmos um pouco sobre a dinâmica de nossos plantios.

Hoje falaremos especialmente do restauro de Porto Feliz que, além de promover a recuperação ambiental e gerar dezenas de empregos, oferece ainda o cultivo de diversos produtos agrícolas entre as espécies de árvores nativas por um período de até três anos, seguindo a Resolução Estadual SMA Nº. 008, de 31/01/2008, que define aspectos técnicos e legais para a recuperação de áreas degradadas no estado de São Paulo.

A seguir, Germiro Nunes Gomes, presidente da Cooperativa de Produção de Prestação de Serviços dos Assentados e Pequenos Agricultores de Porto Feliz e Região – COOPAP, a cooperativa responsável pelo nosso restauro em Porto Feliz, nos fala um pouco mais sobre suas atividades.

Antes de chegar na terra você vivia aonde?
Eu, só pra você ter uma idéia, nasci em Minas e fui pro Paraná na fralda. Fiquei até os 19 anos lá e vim parar em Campinas.

Lá apareceu os movimentos populares. De lá a gente se organizou pra conquistar a terra. Foi quando vim parar em Porto Feliz, de 23 a 24 anos atrás.

Como foi o surgimento da cooperativa?
Na verdade, a história da nossa cooperativa começa muito antes, quando os trabalhadores se reuniram para conquistar um pedaço de terra para trabalhar.

A gente sabia que num primeiro momento precisava conquistar a terra. E depois a gente sabia que vinha o mais difícil, que era fazer com que todo o processo desse certo, ou seja, fazer a produção vir, os produtores produzirem…

Conquistar a terra já tinha sido algo grande, até porque no Brasil são poucos que acreditam nisso, né, na nossa organização. Mas depois disso, no dia-a-dia, a gente percebeu que a gente precisava fazer algo mais, se organizar e montar uma associação ou cooperativa.

Então, primeiro montamos uma associação, que durou uns cinco anos. Mas como a gente não tinha nenhuma experiência, era amador, ela acabou. Depois de uns 13 anos, sentimos na pele a necessidade de montar uma outra cooperativa.

Daí surgiu a COOPAP, que era um sonho lá atrás. Oficialmente a cooperativa tem dois anos e meio que está registrada, mas faz quatro anos que demos a entrada.

Quantas pessoas começaram na cooperativa e quantas têm hoje?
Nós começamos com 23 agricultores e hoje a gente já tem 86 pessoas.

A cooperativa começou no assentamento, mas hoje estamos acertando com a regional, além do assentamento.

Conte um pouco sobre os objetivos da cooperativa.
Por exemplo, conseguir crédito, fazer algumas negociações, pegar financiamento… Com a cooperativa nós temos mais facilidade para conseguir essas coisas, pois ela existe juridicamente, enquanto o agricultor é uma pessoa física.

A negociação com a ONG que a gente conseguiu consagrar foi um dos primeiros projetos realizados que a cooperativa conseguiu fazer e realmente deu certo. Até porque era uma necessidade do assentamento fazer o reflorestamento.

O pessoal já quis reflorestar antes?
Nem todos, mas alguns já tinham se juntado e tentado fazer com recurso próprio e mão de obra da gente. Mas não foi bem discutido e não deu certo.

Com a vinda da ONG, fizemos um contrato que batia com a nossa necessidade e foi quando as coisas realmente aconteceram. Pelo menos nunca vi ninguém falar mal, sempre falam bem. E estão aí as árvores plantadas. Achei interessante quando fizemos uma avaliação, até me admirei com as árvores que plantamos tão pequenas e já estão tão grandes.

Como funciona a estrutura da cooperativa?
Bom, é uma cooperativa, né, tem presidente, vice-presidente, tesoureiro e vice, secretário e vice, como uma chapa completa. Tem conselho fiscal, suplentes.

A gente se reúne uma vez por mês e tudo o que gente faz é decidido em assembléia, é nela que discutimos tudo o que precisa ser discutido e decidido.

Na montagem da cooperativa tinha reunião todo domingo, às 8 horas da manhã, na época que estava montando e começando a aprovar os projetos. Mas, depois, como os sócios achavam que tomava muito tempo de cuidar do lote e com o projeto da CONAB já estamos ficando acostumados, decidimos em assembléia ter uma reunião só, no penúltimo domingo do mês, a gente faz a assembléia e toma todas as decisões da cooperativa.

Há outras entidades que ajudam a cooperativa?
Tem a prefeitura, o ITESP (Instituto de Terras do Estado de São Paulo), o governo do Estado, o governo Federal…

Quais as metas atingidas até agora? E quais vocês têm para o futuro?
Até hoje já realizamos dois projetos com a ONG e acredito que este ano iremos para o terceiro projeto aqui no assentamento.

Também já temos cinco projetos aprovados pela CONAB (Programa de Compra Direta de Alimentos do Governo Federal, que é entregue a instituições assistencialistas, hospitais, etc.) e agora estamos discutindo mais um da merenda escolar (projeto federal de entrega de alimentos da agricultura familiar para compor a merenda das escolas).

Ainda temos muitas barreiras a quebrar, tem muito pela frente…

E o projeto de reflorestamento?
Com a Iniciativa Verde foi uma coisa nova, que a gente não conhecia. E quando foi procurado pela Iniciativa, a gente se juntou e fez uma parceria com a ONG, o ITESP e a Prefeitura.

A Iniciativa acreditou que a cooperativa podia fazer esse trabalho, e nesse caldo saiu as árvores plantadas.

A comunidade ganhou uma cara nova e acho que aconteceu um bom entendimento entre a cooperativa, a ONG e as empresas que repassaram a verba.

Qual a relação entre o projeto com a Iniciativa Verde e o programa de compra direta de alimentos?
Pros cooperados foi bom o seguinte: no meio das árvores fizemos plantio de horta, milho, quiabo, num plantio coletivo ou particular. E o agricultor que trabalhou ganhou também um dinheiro por cuidar das mudas.

Na horta que a gente fez em trabalho coletivo, em dois hectares, a gente tirou uns 28 mil reais de produtos, que foram pro programa de entrega pras entidades.

Foi muito importante também porque havia agricultores que não tinham condições de estar produzindo e no trabalho coletivo apareceu produção desses agricultores. Quer dizer, ele teve a oportunidade de dar certo.

Fale um pouco deste programa da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento).
Pro agricultor que produz e gosta de produzir, esse programa foi uma das coisas mais importantes que aconteceu.

Porque agora ele tem a venda garantida na comercialização, o que antes não tinha. O produtor chegava a perder a produção por não ter pra quem vender. Ou vinha um atravessador e comprava a produção.

Chegou a tomar calote?
E muitos, né?!

Eu mesmo já vendi em grupo, produzi em grupo. Na hora de vender às vezes a gente ganhou, e às vezes a gente perdeu dinheiro.

Hoje a gente monta um projeto, o governo paga direto pro agricultor e agente entrega nas entidades. A gente atende a vila dos velhinhos, e umas outras 17 entidades. É interessante porque somos de nível baixo e atendemos um pessoal que realmente é carente.

O governo valorizou a gente no campo e as pessoas na cidade puderam comer um alimento fresquinho.

E quais são os próximos projetos, as próximas metas da cooperativa?
Agora vai haver um projeto de merenda escolar e a COOPAP vai assumir o papel de abastecer as merendas escolares da região, o que antes era feito por atravessadores. Nós vamos cumprir esse papel, com produtores do assentamento e da região. Com isso todo mundo vai sair ganhando, menos o atravessador que era o único que ganhava antes.

Agora tem que abastecer 30% da merenda escolar com produtos da agricultura familiar e pode chegar a 100%, dependendo da organização, da qualidade e da capacidade de estar produzindo tudo isso.

O projeto da CONAB continua, já estamos ficando acostumados.

Sobre a iniciativa de estar recuperando o assentamento, vamos fazer mais uma etapa agora. E quando terminar o projeto dentro do assentamento, quando for tudo reflorestado, se achar que a gente fez um bom trabalho e temos condições pra fazer mais, uma coisa boa vai ser reflorestar fora do assentamento, em terras particulares.

Desde que os sócios concordem, a gente pode fazer isso. Se depender de mim a gente continua realizando.

Isso vai ser bom pra cooperativa, pra região, pra água. Nessa história toda quem ganha é o homem e a natureza.