O que esperar da conferência climática COP-18?

O que esperar da conferência climática COP-18?

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 24/02/2014

Magno Castelo Branco*

Localizado na Península Árabe e com uma área de apenas 11,57 mil km² e 1,85 milhões de habitantes, o Qatar é apenas o 164º país em área do mundo e o 148º mais populoso. Mas os números modestos param por aí. Com uma economia baseada no petróleo e no gás natural, o país possui a maior renda per capita do planeta e o décimo maior IDH da região que engloba a Ásia e a Oceania. Porém, atualmente também é o maior emissor de carbono per capita, emitindo aproximadamente 23 vezes mais carbono per capita do que o Brasil.

E é justamente em Doha, capital do Qatar, que está sendo realizada a 18ª Conferência das Partes (COP-18) ­- o braço executivo da Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança do Clima. Na conferência, decide-se sobre a aplicação e o funcionamento das diretrizes do tratado Protocolo de Kyoto, a implementação dos mecanismos acordados e o cumprimento das metas determinadas. Cada conferência inicia-se com uma agenda preestabelecida, visando dar andamento às atividades colocadas anteriormente e definindo e acordando novas metas e mecanismos.

A COP de Doha começa de maneira tensa. Logo antes da Conferência, a ONU alertou que as emissões de carbono em 2010 foram 14% maiores do que se espera para 2020 caso as metas estabelecidas nas COPs anteriores fossem cumpridas. Ou seja, se emitiu mais do que o natural aumento esperado para dez anos à frente. Com a continuação desse cenário, é possível que não consigamos atingir a meta de aumento médio da temperatura global em até 2 ºC antes de 2100. O aumento pode ser de até 5 ºC com consequências calamitosas e imprevisíveis para boa parte da sociedade.

Além disso, a COP de Doha também carrega outra enorme responsabilidade: é nela que será decidida a extensão do Protocolo de Kyoto, cujo primeiro período acaba em 2012. O Protocolo é o principal tratado internacional que estabelece metas e mecanismos de mercado para que os países desenvolvidos e em desenvolvimento consigam, em conjunto, reduzir as emissões globais para os patamares acordados previamente. Sem uma definição clara sobre o futuro de Quioto depois deste ano, todo o esforço realizado anteriormente perde a inércia e cada vez mais a humanidade se distancia das metas necessárias para que tenhamos um futuro comum em harmonia com os recursos do planeta em que vivemos.

*Diretor técnico da Iniciativa Verde.