Da esquerda para direita: Wenceslau Geraldes, pesquisador da Embrapa Solos, Reinaldo Canto, Envolverde, Roberto Resende, presidente da Iniciativa Verde. Em encontro na AgriZone, em Belém (PA)
Por Reinaldo Canto – Belém (PA)
A COP30 pode até não ter entregado tudo o que o planeta precisava — e merecia — diante da emergência climática evidente. Mas a cidade de Belém entregou algo que faltava há muito tempo no debate global: a demonstração inequívoca da força da Amazônia, de sua gente, de sua cultura e de sua capacidade de convocar o mundo a olhar para a floresta não como obstáculo, mas como futuro.
Nesta atmosfera vibrante, minha participação na conferência ganhou ainda mais sentido graças à parceria bem-sucedida entre Envolverde e CicloVivo, reforçada pela acolhida na Casa do Jornalismo Socioambiental, que se consolidou como um espaço essencial de articulação, trocas e respiro para quem vive mergulhado no turbilhão de informações da COP.
Restaurar é preciso
E em meio a tantas conversas fundamentais, envolvendo principalmente o bioma amazônico, uma presença importante trabalhou para chamar a atenção para outro bioma: a Iniciativa Verde, representada por seu presidente Roberto Resende, que levou para Belém um alerta que não pode mais esperar — é preciso olhar também para o reflorestamento e para a recuperação das áreas degradadas da Mata Atlântica, o bioma mais devastado do país.
Resende fez questão de lembrar que, embora a Amazônia concentre a maior atenção global, a crise climática e a perda de biodiversidade não respeitam recortes geográficos. O Brasil só pode liderar de fato a transição ecológica se todos os seus biomas forem tratados com a mesma seriedade e urgência. "Não há solução climática sem restaurar o que já destruímos", enfatizou, reforçando a necessidade de ampliar investimentos, políticas públicas e mecanismos de colaboração entre empresas, governos locais e sociedade civil.
Fortalecendo parcerias
A participação na COP 30 serviu também para reforçar laços com parceiros da Iniciativa Verde e buscar novas parcerias. A instituição participou de atividades com as redes nas quais atua, como a Rede de ONGs da Mata Atlântica, Observatório do Código Florestal, Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica e Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica, além de interação com várias outras organizações do terceiro setor, autoridades do campo ambiental e empresas, especialmente sobre restauração ecológica e mecanismos de financiamento.
"O encontro com a EMBRAPA na AgriZone e na visita de campo do Projeto Bem Diverso no Marajó foram importantes para aprendizado e intercâmbio de tecnologias. E aproveitamos para contatos com atuais e possíveis financiadores, como fundos, agências de fomento e entidades filantrópicas para novos projetos da Iniciativa Verde", complementou Resende.
Na Casa da Mata Atlântica, instalada na UNAMA (Universidade da Amazônia) em Belém, a fala do presidente da Iniciativa Verde durante um painel tocou num ponto fundamental: a recuperação da Mata Atlântica é uma das maiores oportunidades climáticas do país, mas continua subfinanciada e relegada a planos secundários. Em uma COP em que tantos setores ainda tentam manter a lógica do verde de showroom, a mensagem caiu como contraponto realista — e necessário.
Daqui para frente
Belém, por sua vez, mostrou que a sustentabilidade não é um conceito abstrato. É vivida nas ruas, nos mercados, nos rios, nos sabores. É floresta pulsante em cada vento úmido que atravessa a cidade. A COP30 pode não ter sido perfeita, mas o encontro que ela promoveu — entre Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado e as tantas vozes que compõem o Brasil real — já representa um avanço.
E se quisermos realmente construir um futuro climático digno, será preciso manter essa energia, fortalecer as parcerias e ampliar a visão. A floresta em pé é essencial. Mas a floresta que precisamos reerguer também é. Essa foi, talvez, uma das mensagens mais potentes desta COP — e uma que devemos carregar para muito além de Belém.